João Felipe B. Moreira n°17
Maior acidente radiológico do mundo, césio-137 completa 26 anos
No âmbito radioativo, tragédia só não foi maior do
que a de Chernobyl.
Sobreviventes reclamam de descaso; lixo contaminado foi enterrado.
Sobreviventes reclamam de descaso; lixo contaminado foi enterrado.
Do G1 GO, com informações da TV
Anhanguera
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Há exatos 26 anos, Goiânia era atingida por aquele que é considerado o maior
acidente radiológico do mundo. A tragédia envolvendo o césio-137 deixou
centenas de pessoas mortas contaminadas pelo elemento e outras tantas com
sequelas irreversíveis. No ano passado, o G1 publicou uma
série de reportagens especiais relembrando os 25 anos do acidente.
No âmbito radioativo, o Césio 137 só não foi maior
que o acidente na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, segundo a
Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). O incidente teve início depois que
dois jovens catadores de papel encontraram e abriram um aparelho contendo o
elemento radioativo. A peça foi achada em um prédio abandonado, onde funcionava
uma clínica desativada.
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tragédia com o Césio-137 em Goiânia
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anos do acidente com o césio-137, em GO
Mesmo passadas mais de duas décadas da tragédia, o
acidente ainda deixa resquícios de medo. Um exemplo é a situação do local onde
morava uma das pessoas que encontraram a peça. A casa em que vivia o catador
foi demolida no mesmo ano em que tudo ocorreu. Apesar de o solo ter sido todo
retirado e ter sido substituído por várias camadas de concreto, nunca mais
qualquer tipo de construção foi feita no local.
Riscos
Segundo o supervisor de radiodivisão César Luis Vieira, que também trabalhou na época do acidente, o risco de contaminação em Goiânia foi praticamente extinto. "Se for comparar o resultado de hoje com o da época, é uma diferença [de radiação] quase mil vezes menor", afirma.
Segundo o supervisor de radiodivisão César Luis Vieira, que também trabalhou na época do acidente, o risco de contaminação em Goiânia foi praticamente extinto. "Se for comparar o resultado de hoje com o da época, é uma diferença [de radiação] quase mil vezes menor", afirma.
César explica ainda que o nível de radiação da
cidade é considerado dentro dos padrões normais. "Não há nenhum lugar que
não tenha material radioativo, como, por exemplo, o urânio, que está no solo. É
o que a gente chama de radiação natural, mas que não oferece risco",
complementa.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0jZ1MnsW3evKsPO3I83lSSvucHJouHt0pluDhgknbh7UD_ktRYormg2VQRe4mehj9KsPWiL-W2zrrvmzntzq8PgRL2UCVVB53L_1FnqQF0W2AHe6GwILaG59ljtaoOKrJ83y-ENhDwVk/s1600/137.jpg)
Cerca de 6 mil toneladas de lixo radioativo foram
recolhidas na capital goiana após o acidente. Todo esse material com suspeita
de contaminação foi levado para a unidade de do Cnen em Abadia de Goiás, na Região Metropolitana da capita, onde foi
enterrado.
Passadas mais de duas décadas, os resíduos já perderam
metade da radiação. No entanto, o risco completo de radiação só deve
desaparecer em pelo menos 275 anos.
Reclamações
Para relembrar o acidente, aconteceu nesta sexta-feira uma reunião na Assembleia Legislativa com mais de 100 vítimas do Césio 137. A maioria deles ainda tem sequelas contraídas durante o episódio.
Para relembrar o acidente, aconteceu nesta sexta-feira uma reunião na Assembleia Legislativa com mais de 100 vítimas do Césio 137. A maioria deles ainda tem sequelas contraídas durante o episódio.
O aposentado Teodoro Bispo, que trabalhou na
descontaminação da área afetada pelo acidente, teve problemas em várias partes
do corpo, principalmente na visão, por causa do contato com o elemento
radioativo. Ele cobrou melhorias na assistência hospitalar e mais atenção do
poder público para as vítimas.
"Eles falam que não iríamos ter nada, mas tem
muita gente morrendo. A gente se sente abandonado. Nós que descontaminamos
Goiânia recebemos apenas R$ 622", lamenta.
Contaminação
A tragédia começou quando dois jovens catadores de materiais recicláveis abrem um aparelho de radioterapia em um prédio público abandonado, no dia 13 de setembro de 1987, no Centro de Goiânia. Eles pensavam em retirar o chumbo e o metal para vender e ignoravam que dentro do equipamento havia uma cápsula contendo césio-137, um metal radioativo.
Apesar de o aparelho pesar cerca de 100 kg, a dupla o levou para casa de um deles, no Centro. Já no primeiro dia de contato com o material, ambos começaram a apresentar sintomas de contaminação radioativa, como tonteiras, náuseas e vômitos. Inicialmente, não associaram o mal-estar ao césio-137, e sim à alimentação.
A tragédia começou quando dois jovens catadores de materiais recicláveis abrem um aparelho de radioterapia em um prédio público abandonado, no dia 13 de setembro de 1987, no Centro de Goiânia. Eles pensavam em retirar o chumbo e o metal para vender e ignoravam que dentro do equipamento havia uma cápsula contendo césio-137, um metal radioativo.
Apesar de o aparelho pesar cerca de 100 kg, a dupla o levou para casa de um deles, no Centro. Já no primeiro dia de contato com o material, ambos começaram a apresentar sintomas de contaminação radioativa, como tonteiras, náuseas e vômitos. Inicialmente, não associaram o mal-estar ao césio-137, e sim à alimentação.
Depois de cinco dias, o equipamento foi vendido
para Devair Alves Ferreira, dono de um ferro-velho localizado no Setor
Aeroporto, também na região central da cidade. Neste local, a cápsula foi
aberta e, à noite, Devair constatou que o material tinha um brilho azul intenso
e levou o material para dentro de casa.
Devair, sua esposa Maria Gabriela Ferreira e outros
membros de sua família também começaram a apresentar sintomas de contaminação
radioativa, sem fazer ideia do que tinham em casa. Ele continuava fascinado
pelo brilho do material. Entre os dias 19 e 26 de setembro, a cápsula com o
césio foi mostrada para várias pessoas que passaram pelo ferro-velho e também
pela casa da família.
Leide das
Neves
A primeira vítima fatal do acidente radiológico foi a garota Leide das Neves Ferreira, de 6 anos. Ela se tornou o símbolo dessa tragédia e morreu depois de se encantar com o pó radioativo que brilhava durante a noite.
A primeira vítima fatal do acidente radiológico foi a garota Leide das Neves Ferreira, de 6 anos. Ela se tornou o símbolo dessa tragédia e morreu depois de se encantar com o pó radioativo que brilhava durante a noite.
A menina ainda fez um lanche depois de brincar com
a novidade, acabou ingerindo, acidentalmente, partículas do pó misturadas ao
alimento. Isso aconteceu longe dos olhos da mãe, Lourdes das Neves Ferreira.
Em entrevista
concedida ao G1 no ano passado, Lourdes disse que se sente culpada pela morte da
filha. “Fica passando um filme na minha cabeça. São 25 anos de sofrimento, de
dor, de tristeza e de angústia. Eu me arrependo e cobro de mim mesma. Se eu não
tivesse ido tomar banho, talvez ela não tivesse ingerido [partículas de pó do
césio]", disse.
Notícia sobre o acidente que completou 26 anos no final de
2013
http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/09/maior-acidente-radiologico-do-mundo-cesio-137-completa-26-anos.html